sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Rubrica opina: Espetáculo Pequenas Epifanias


Depois de tanto falar do espetáculo, fui conferir. Se você não conseguir assistir até domingo, inclua na sua listinha de espetáculos do Fringe do ano que vem (Mostra paralela do Festival de Curitiba)


A locomoção  árdua

Quase surtei esperando o ônibus (como pode um ônibus que chama-se ligeirinho não chegar em 30 minutos?), no desespero resolvi fazer a Angélica (Aiiiiiiiiii que beeeeeeecha isso, me senti a Angel Inoue do Aqui Só Tem Bafon RS), saí correndo do terminal do Cabral e peguei um taxi, e gastei doze reais nele,  sendo que o valor do ingresso era de 5 reais para estudantes.

Quando cheguei eu só tinha uma nota de cinqüenta reais, e chamaram a produtora da peça, a Jéssica Beatriz, pois a bilheteira não tinha troco. A Jéssica me deu um convite huahuah (OBRIGADÃO JÉSSICA), e ta , economizei 5 reais e fiquei mais bem humorado, já que a peça ainda não tinha começado e eu já estava triste com a possibilidade de ter perdido a viagem e de não conseguir assistir ao espetáculo (era uma quinta-feira e eu trabalho todas as noites de sexta a domingo, a peça só ficará em cartaz até este domingo dia 15 de novembro e depois a montagem só volta aos palcos no festival de teatro).

Aguardei liberarem a platéia junto do público, formado por umas dez pessoas simpáticas. Fui o primeiro a entrar, escolhi um bom lugar, um casal sentou ao meu lado e soltei uma piadinha... – Ai gente, será que sentamos todos juntos para termos um calor humano ou nos espalhamos para preenchermos o teatro? (risos).
Mas melhor do que aquilo... impossível... O teatro Espaço dois é pequenininho, todo fofo, tem um clima bem intimista, não é um problema ter uma platéia não numerosa.

O espetáculo

Pequenas Epifanias que despertam sorrisos e emocionam
Por Christiano Kubis

O espetáculo começa com a cena do Édipo cego -o prólogo comentado pelo diretor Cleber Braga na nossa entrevista - que é realmente muito boa, termina com a atriz que interpreta uma Medusa tirando parte do figurino e adereços deixando apenas a calcinha, uma camiseta da Janis Joplin e meias pretas, a partir daí inicia-se uma nova cena com um novo personagem, trata-se de um lésbica rockeirinha.

A lésbica rockeirinha é um show de interpretação, entre tragadas de cigarros, um vinil, uma pizza amanhecida e uma garrafa de uma bebida alcoólica destilada, de pileque, ela divaga sobre a sua situação degradante. Um personagem que me fez rir muito no início, graças a sua comicidade, porém também provocou um aperto no peito. Consegue comover e despertar sentimento de pena com suas crises existenciais e sua situação de lésbica caminhoneira. Nesse momento eu queria estar gravando a minha expressão fácil que foi dos risos e terminou com uma cara de cu. O tapa na cara do público é muito bem dado quando ela fala de ser cool, pseudo intelectual, cita filósofos, e chega a conclusão que tudo isso é realmente um SACO. Depois de tanto falar, lhe sobra um vaso sanitário que remete a um troféu para que ela vomite, e bem.

Existem várias cenas hilárias e ao mesmo tempo sensíveis e tocantes , como a dos quatro personagens, um em cada canto do teatro, aparentemente PIRANDO, como se estivessem em uma discussão de relação (cada qual com o seus parceiros). Entram todos falando juntos e depois cada um tem sua vez e seus devidos holofotes.

A cena de humor da loira trintona e gostosa é muito boa e também é um show de interpretação. Ela aparece envolvente em uma lingerie corselatada de rendas, com um libido a flor da pele, e é mais um tapa na cara de muita mulher que se acha gostosa por aí.

Na cena da desilusão de um garotinho de 6 anos eu também ri muito, porém me perdi e no final entendi mais ou menos, ou porque sou meio burrinho mesmo, ou porque faltou mais da minha atenção. Não consegui acompanhar o ritmo e a intensidade do texto MESMO.

Nunca imaginei que eu ficaria tão tocado após ouvir um texto tão escatológico (regado de bunda, cu e merda) como o da cena de um casal gay (mais um bom tapa na cara). Depois de um dos personagens refletir tanto sobre o cheiro da bosta que permeia o ar, lençóis sujos, e do quão nojento o sexo (anal) pode ser, seu parceiro intervém com um contrapeso, e fala de amor. Do que pode ser chamado de amor, da intimidade, e do quão prazeroso, e até mesmo bonito, tudo aquilo (que parecia nojento) pode ser.

Enfim! Uma produção simples, com um texto digno e atual e com um elenco de ouro cosmopolita! Vale a pena destacar os figurinos masculinos da Adriana Almeida (inteligente, com um cartela de cores em que predominam o cinza e o vermelho, linnnnndo), a ótima luz do Waldo Léon, que não por acaso (olha! Não Por Acaso é o nome de um filme que adoro RS) vem monopolizando a criação de luz teatral e m Curitiba desde que chegou por aqui.

O espetáculo Pequenas Epifanias realmente tem um apelo emotivo forte, é fácil nos identificarmos com os personagens, porque eles são muito verdadeiros, são personagens da realidade, assim como nós (o público). Aquela sensação de termos algo mal resolvido (de tentarmos o tempo todo, nossa situação, nossa opinião, a felicidade, a infelicidade, nossa vida regada de satisfação e insatisfação e momentos únicos, a esperança, o amor, anseios, dúvidas, experiências).

Saí mais do que satisfeito, sozinho (e feliz por estar sozinho naquele momento), pensativo, me sentindo um personagem do espetáculo com sede de ler a obra do Caio Fernando de Abreu. É para rir, se identificar e também se emocionar.

Está mais do que Rubricado :-)

2 comentários:

  1. fabíola8:03 AM

    oiê! vim aqui conferir a resenha (talvez a nossa primeira?).
    fico muito feliz que tenha gostado do espetáculo, e obrigada pela força!
    beijo!

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  2. Wow, obrigado pela visita Fabiola, nossa! Foi muita coincidencia encontra-los no kitinight!

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