quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Rubrica entrevista: Cleber Braga

Tivemos nosso momento epifanico e entramos em contato com o diretor  teatral Cleber Braga para uma entrevista surpresa. No bate papo ele e nos conta  mais da obra do autor Caio Fernando Abreu, fala do que não pode ser dito, cita a Clarice Lispector, e  nos lembra da  efemeridade de  momentos únicos.
E é claro, fala mais do seu espetáculo Pequenas Epifanias, da equipe envolvida na produção e da coincidência de termos Caio Fernando Abreu em dose dupla nos palcos curitibanos.

Cleber Braga

 
Segundo o dicionário Michaelis, a palavra epifânia refere-se à aparição de Jesus Cristo aos gentios na pessoa dos Reis Magos que o vieram adorar. Comemorava-se esse acontecimento com a festa litúrgica da Epifânia no dia 6 de janeiro. A partir da reforma do calendário litúrgico em 1969, celebra-se no segundo domingo depois do natal.
Mas para o escritor Caior Fernando de Abreu, que inspirou o espetáculo do diretor Cleber Braga, as pequenas epifanias são mais do que isso!

O motivo da montagem do espetáculo

Rubrica: Oi Cleber, tudo bem?

Cleber Braga: Tudo bem!

Rubrica: Existem duas peças em cartaz em Curitiba, a Pequenas Epifanias e a Chiclete & Som...

Cleber Braga: Sim, ambas com o texto do Caio né?

Rubrica: Exato! Ambas com o texto do Caio! Como nós percebemos isso, gostaríamos de saber se você pode nos dar uma pequena entrevista...

Cleber Braga: Agora?

Rubrica: É

Cleber Braga: Você diz... AGORA?

Rubrica: É pode ser agora? Não sei se você está muito ocupado.

Cleber Braga: Tudo bem! Vamos lá (risos!)

Rubrica: (risos) Então vamos lá.

Cleber Braga: Pode ser (risos), claro

Rubrica: Nós queremos que você nos fale um pouco mais do espetáculo! Pequenas Epifanias na verdade é o nome de um livro, com uma coletânea de contos do Caio Fernando de Abreu publicados no jornal O Estadão. Queremos saber o motivo pelo qual você escolheu o Caio Fernando, que tem uma trajetória incrível, morou na Europa, era homossexual e soropositivo, enfim. É um escritor interessante.

Cleber Braga
: Este é um projeto antigo sabe! Eu leio Caio desde a adolescência, eu sempre tive a vontade de fazer uma montagem de textos dele, sobretudo porque... na verdade os textos dele sempre foram muito montados para teatro... Mas eu sempre tive a vontade de pegar a parte menos montada da obra dele.

O Caio Fernando é um escritor reconhecidamente emocional, ele não é um autor conceitual, a obra dele tem um apelo emotivo muito forte, e eu sempre quis trabalhar esse outro lado, esse lado menos explorado da obra dele no teatro.

Pra mim o Caio escreve sobre tudo aquilo que não pode ser dito. Por que a gente não consegue dizer, por que a gente é incapaz de dizer, por que as palavras falham, elas não dão conta de dizer, e seja por que quando conseguem dizer é de uma franqueza tão grande, que não é o tipo de coisa que a gente diga cotidianamente.

Rubrica: Uhummmm

Cleber Braga: Então, eu acho que o que me interessou nessa seleção de textos e nesse projeto, é pegar essa dimensão da obra do Caio, daquilo que não pode ser dito, mas que precisa ser dito, e por isso que a gente não desiste de tentar.

Rubrica
: Por isso que você fala da esperança na sinopse da peça,? Que esperança surge como um milagre. É nesse sentindo? De ter a esperança de falar o que... hummmm

Cleber Braga: O QUE É QUASE IMPOSSÍVEL! O que cada um – como disse a Clarice Lispector “Eu sou eu, ninguém é eu e ninguém é você, aí está a nossa solidão”. Porque é isso, a comunicação também é uma utopia, mas a gente não desiste né? (RISOS)

Rubrica
: (RISOS)

Cleber Braga: A gente tenta, tenta! Na peça os personagens estão o tempo todo tentando, estabelecer algum nível de comunicação. 

Pequenas Epifanias, o nome do espetáculo

Cleber Braga
: O nome da peça é Pequenas Epifanias, mas é só uma referencia, porque na verdade não tem nenhum texto desse livro que você citou, por exemplo.

Rubrica
: Haaaaaaaaa ta, nossa, nós fomos pelo lado mais fácil e óbvio (risos). Imaginamos que você tinha se utilizado de alguns contos do livro.

Cleber Braga
: Nesse livro tem uma crônica em que ele fala do que seriam essas pequenas epifanias. Para ele são esses momentos em que a gente, por um instante, parece entender alguma coisa. São instantes da nossa vida, em que alguma coisa se completa, e que são super efêmeros, e às vezes você comemora esse instante, em que alguma coisa faz sentido para você, em que alguma coisa se completou... Um amor, uma compreensão de vida.

Rubrica: Olha só... Valores efêmeros possuem começo, meio e fim e são super rápidos!

Cleber Braga: É, e muitas vezes são só aquilo ali, foi um momento em que você entendeu alguma coisa, mas esse momento você leva contigo, são momentos muito marcantes, são frágeis... São momentos marcantes mesmo. Então eu acho que todos os personagens da peça -os textos que nós selecionamos- possuem um momento em que eles compreendem alguma coisa! É como se cada um deles, tivesse uma pequena epifania, em cada cena sabe. Por isso também a escolha desse título para a peça.

O espetáculo e os envolvidos



Rubrica: E os pontos altos da peça? você como diretor pode nos adiantar algo? Tenho uma amiga que assistiu e já me adiantou que o Luis Bertazzo está hilário interpretando um menino de 6 anos!

Cleber Braga: O Luiz é um excelente ator, ele consegue compreender bem essa dimensão. No final da peça tem um texto que é um dos mais fortes e pungentes, um texto que eu sempre gostei e quis muito fazer, eu nunca tinha visto montado e de fato o Luiz está muito bem, mas peça passa por vários lugares...

Então! Tem uma cena de humor engraçadíssima de uma loira trintona e gostosa, que se diz trintona e gostosa. Tem essa primeira desilusão de um garotinho de 6 anos que você citou.

Tem uma cena interessante de uma ex militante política que vira funcionária de uma multinacional no anos oitenta (Essa parte é interessante porque o Caio consegue falar de um período histórico, de um Brasil pós ditadura, sobre o que é viver depois de uma utopia de um mundo melhor, e de repente cair em uma realidade de um capitalismo, de uma praticidade, de uma falta de sonho nos anos oitenta. Mas ele (O Caio) faz isso através da visão do personagem, então é legal isso, ele sempre consegue humanizar essas questões.

E tem um prólogo, começa com o Édipo cego, procurando se alguém viu aonde ele amarrou o cavalo, que é super cômico. É um prólogo, pois todos os personagens, depois desse, estão todos querendo saber onde amarraram o seu cavalo (risos)

Rubrica: (risos), o prólogo meio que, resume

Cleber Braga
: é ele meio que resume

Rubrica: Percebemos que temos alguns conhecidos no espetáculo, o André coelho está de designer gráfico, o Bira de cenotécnico, o Rapha Rocha no elenco. Nos parece uma boa equipe.

Cleber Braga: São bons parceiros sabe! Eu queria trabalhar com pessoas que tivessem a capacidade de sentir e entender o espetáculo! O Caio foi tão sincero na obra dele, que eu não queria trair essa sinceridade, fazendo algo menor.

Caio Fernando Abreu em dose dupla?

Rubrica: A última pergunta! Você chegou a assistir o espetáculo Chiclete & Som? Você conhece a Nina Rosa Sá, que é a diretora do espetáculo? Vocês são amigos?

Cleber Braga: Claro! Eu os conheço, conheço a Uyara Torrente, demos entrevista juntos para a televisão esses dias. Conheço o Pablito Kucar! Eu conheço as pessoas da equipe.

Eu acho ótimo,  as duas peças estarem em cartaz, isso para mim só mostra como a obra do Caio é urgente nos dias de hoje sabe? O quanto faz sentido, na verdade, a obra dele nos dias de hoje, então eu acho ÓTIMO. Assim que eu sair de cartaz eu irei vê-los.

Rubrica: E foi coincidência as duas peças entrarem em cartaz simultaneamente?

Cleber Braga: Foi uma coincidência!

Rubrica: Pois é, ambas as peças foram feitas por projetos de leis de incentivo.

Cleber Braga
: É o deles foi pela Funarte (Fundação Nacional das Artes), e o nosso foi pelo mecenato de Curitiba mesmo. O projeto do Pequenas Epifanias é super antigo, que eu tinha meio que... engavetado. Depois de muito tempo em parceria com a Jéssica Beatriz que é produtora, resolvemos montá-lo. Então foi uma coincidência mesmo.

Rubrica: Poxa, valeu pela entrevista, com certeza assistiremos ao espetáculo.

Cleber Braga: Haaaaaa por favor,  obrigado e apareçam no espetáculo.

Rubrica: Nós somos interessadíssimos pela área cultural, e o que nos despertou interesse é o fato dos dois espetáculos inspirados no mesmo autor estarem em cartaz ao mesmo tempo!

Cleber Braga
: Ao mesmo tempo com estréia no mesmo dia né?

Rubrica:
É, com um autor tão interessante, ambas merecem mais atenção.

Cleber Braga: Legal!

Rubrica: Legal, mais uma vez obrigado pela entrevista.

Cleber Braga
: Nos vemos!

Rubrica:
Tchau, tchau

Cleber Braga: Tchau, tchau


O Cleber foi muito simpático e atencioso e entrou para a lista très chic do Rubrica rs

2 comentários: