terça-feira, 6 de outubro de 2009

Litertura + jornalismo no Sesc

Feira de livros Sesc Paraná 2009

Curte literatura, jornalismo cultural e afins? Então a Feira de livros do Sesc Paraná é um prato cheio. Confira a programação e se jogaaaaa!

O evento tem o compromisso de fazer circular novos produtos literários, promover o intercâmbio entre escritores de todo o Brasil e contribuir com o desenvolvimento do mercado livreiro. Nesta edição que acontece de 6 a 11 de outubro no Sesc da Esquina, o tema será Literatura e Jornalismo.

O diálogo entre a literatura e o jornalismo na atualidade, as mudanças do mercado editorial e outras importantes questões serão discutidas em mesas-redondas, palestras, oficinas, mostras e performances.

Literatura e Jornalismo
Por Rogério Pereira

A Literatura e o Jornalismo — no Brasil e no mundo — sempre man¬tiveram uma convivência estreita e harmônica. Basta uma rápida espiada pela história da literatura para no¬tar (e comprovar) a ligação que os grandes escritores mantiveram com as páginas da imprensa nas mais di¬versas épocas. Nos fins do século 19, mais precisamente em 1880, Macha¬do de Assis alcança a plenitude como cronista nos jornais cariocas com uma prosa ágil, leve e irônica. Neste mesmo ano, Memórias póstumas de Brás Cubas — romance que ao lado de Dom Casmurro compõe o auge da prosa machadiana — é publicado em capítulos na Revista Brasileira. As¬sim como Machado, José de Alencar, Coelho Neto, Lima Barreto e muitos outros transitavam céleres pela imp¬rensa brasileira de então, publicando crônicas, contos, romances e ensaios.
Exemplos similares se espalham pelo mundo. É comum apontar escritores clássicos que tiveram seus nomes e obras ligados à imprensa. Os romanc¬es-folhetins foram, especialmente no século 19, um dos principais produtos culturais a adentrar os lares, seja no Brasil ou na França, só para citar dois exemplos. Ao longo de 1856, Flau¬bert publicava seu clássico Madame Bovary nas páginas da Revue de Paris.

Ao longo do tempo, a relação dos escritores com o jornalismo sofreu diversas transformações. Nada mais natural, pois a sociedade ligada às letras (e ainda distante das tecnolo¬gias que nos rondam o cotidiano) vai rapidamente se modificando. Os ro¬mances-folhetins perdem espaço na imprensa. O rádio e a TV (mais tarde o cinema e a internet) transformam-se nos grandes protagonistas da vida familiar. Mas este texto não pretende alçar um longo voo sobre estas trans¬formações, pois elas, mesmo mere¬cendo um aprofundado estudo, são bastante claras.

Antes de se chegar à relação atual entre jornalismo e literatura, é imprescindível uma referência ao chamado New Jor-nalism, surgido nos Estados Unidos na década de 1960, e cujos principais representantes são Truman Capote, Gay Talese, Norman Mailer e Tom Wolfe. Conhecido como jornalismo literário, o New Jornalism busca a junção das narrativas literária e jor¬nalística, sem nunca desprezar o preceito da verdade. Alguns clássi¬cos modernos nasceram deste casa¬mento. Um dos principais é A Sangue Frio, de Capote, lançado em 1965. É de Talese, por exemplo, a lapidar sentença: “O jornalista deve escrever tão bem quanto o romancista”.

No Brasil, o jornalismo literário tam¬bém ganhou adeptos. Hoje, é bastante praticado em reportagens especiais nos grandes veículos. A revista Piauí é um dos principais veículos a dedi¬car-se quase que exclusivamente ao gênero que busca a fusão equilibrada entre literatura e jornalismo.

Ainda nesse campo, um dos exem¬plos mais bem acabados na história literária brasileira é a obra-prima Os Sertões, de Euclides da Cunha. O livro nasce da incursão do jornalista pela campanha de Canudos em 1897, a serviço do jornal O Estado de S. Paulo. Dividida em três partes (A terra, O homem, A luta), a obra é um belíssimo relato jornalístico, com in-formações científicas, alicerçadas por uma eficaz narrativa. Por isso, nada mais justo do que, no centenário de morte de Euclides, a Feira de Livros Sesc 2009 tê-lo como autor hom¬enageado.

Mas, se o jornalismo literário man¬tém bases sólidas na imprensa atual, a ficção perdeu imenso terreno. Atualmente, é praticamente inexis¬tente o romance-folhetim na grande imprensa, com raríssimas exceções. A publicação de textos ficcionais ficou relegada a veículos especializa¬dos (revistas Bravo!, Piauí e jornais Rascunho e Pernambuco são alguns exemplos) e principalmente à Inter¬net — um vasto campo tanto para a produção ficcional quanto para a crítica literária.
É notório também o encolhimen¬to dos suplementos literários nos grandes jornais. Publicações volta¬das exclusivamente à literatura e de tiragens expressivas são raras no Brasil. Além disso, o espaço para as resenhas é muito restrito. Os longos ensaios — muito praticados entre as décadas de 1950 e 1970 — cederam lugar a brevíssimas resenhas. A expli¬cação atual se ampara na “crise por que passa a imprensa escrita” no Bra¬sil e no mundo e numa suposta falta de tempo dos leitores para textos mais longos.

Com isso, há um crescimento visível na importância da Internet como ca¬nal para discussão e divulgação da produção literária brasileira, princi¬palmente entre os autores da nova geração. A Internet é, muitas vezes, a porta de entrada para escritores e leitores em busca de literatura.
Isso não quer dizer que a imprensa abriu mão dos escritores. Muito pelo contrário. Nas páginas de pratica¬mente todos os grandes veículos (jornais e revistas), é constante a presença de ficcionistas, muitos deles também jornalistas. Mantém-se com muita força a crônica na mídia impressa. Considerada um gênero genuinamente brasileiro, ela é praticada diariamente por autores das mais distintas gerações e estilos.

Diante deste breve quadro, é relevante que a Feira de Livros Sesc Paraná 2009 tenha como tema principal a discussão sobre Jornalismo e Literatura. Qual é o espaço da literatura na imprensa atual? Como o jornalismo dialoga com a litera-tura? Que características são mais marcantes no jornalismo literário brasileiro? Por que a crônica conserva sua vitalidade? Como se constrói uma biografia? Qual é a força da internet na relação entre jornalismo e literatura?
Essas e outras importantes questões serão discutidas em mesas-redondas, pal¬estras e oficinas entre os dias 6 e 12 de outubro. Uma grande oportunidade para se aproximar da literatura e do jornalismo. Enfim, da vida que nos cerca.

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