Não significa Nada
Parte 1
Nós o encontrávamos às vezes no Hotel Carlyle. Seria exagero chamá-lo de amigo, mas F. era um conhecido muito agradável, e minha mulher e eu sempre ficávamos na expectativa quando ele ligava dizendo que viria a cidade. Poeta francês ousado e prolífico, F. era também uma das maiores autoridades do mundo a respeito de Henri Matisse. Tamanha era a sua reputação que um importante museu francês lhe pediu para organizar uma grande exposição da obra do artista. F. não era um curador profissional, mas se entregou ao trabalho com enorme energia e habilidade. A idéia era reunir todas as pinturas de Matisse de um período específico de cinco anos do meio de sua carreira. O projeto envolvia dúzias de telas, e como elas estavam espalhadas pelo mundo, em museus e em coleções particulares, F. levou muitos anos para preparar a exposição. No fim, apenas uma obra não havia sido encontrada – mas era uma obra crucial, a peça central de toda a exposição. F. não tinha sido capaz de localizar o dono, não tinha a menor idéia de onde ela estava, e sem aquela tela anos de viagem e trabalho meticuloso teriam sido em vão. Durante os seis meses seguintes, ele se dedicou exclusivamente à busca daquela pintura, e quando a encontrou descobriu que o tempo todo ela estivera a poucos metros dele. O proprietário era uma mulher que morava num apartamento do Hotel Carlyle. O Carlyle era o hotel predileto de F., que ficava lá toda vez que vinha a Nova York. Mais que isso, o apartamento da mulher ficava exatamente em cima do quarto que F. sempre reservava para si- apenas um andar a cima. O que significava que todas as vezes que F. tinha dormido no hotel Carlyle imaginado onde poderia estar a pintura desaparecida, ela estava pendurada em uma parede bem em cima de sua cabeça. Como uma imagem de sonho.
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